Estela funerária com Cruz de Cristo
Séculos XIV / XV
Calcário, 35 (Diam.) x 7,5
Tomar, Convento de Cristo, Instituto Português do Património Arquitectónico, em depósito no Claustro das Lavagens; propriedade da União dos Amigos da Ordem de Cristo (UAMOC)

Logo depois da extinção dos Templários, D. Dinis funda a Ordem de Cristo, em bom rigor, continuadora da Ordem do Templo, iniciativa à qual o então Papa João XXII deu aval através da bula Ad ea exquibus de 14 de Março de 1319. Assim, todos os cavaleiros e bens da primitiva Ordem foram transferidos para a recém-criada Ordem de Cristo, que assenta a sua sede no castelo de Castro Marim, no Algarve. Em 1357, a sede é transferida para o Castelo de Tomar, regressando ao ponto de partida. Com a transferência dos bens para a Ordem de Cristo, os Templários vêem assim garantida, em Portugal, a continuação da sua actividade. Registe-se que, em bom rigor,  nada diferenciava a ›nova‹ Ordem de Cristo da antiga Ordem do Templo. Nem mesmo o seu nome. »Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo« (Ordo Militiae Jesu Christo), que equivale ao nome original da Ordem do Templo: »Comilitionum Christi«, isto é, Cavaleiros de Cristo, conforme reza o prólogo à Regra templária, redigido no Concílio de Troyes. Do mesmo modo o hábito permanece o mesmo, e a própria insígnia, a cruz potenteada, recebe apenas um ligeira alteração, com a inscrição no seu interior de uma cruz grega, branca; mais tarde, os extremos da cruz vão ser modificados, transformando-se a cruz pátea, arredondada, na conhecida Cruz de Cristo, que assume, simbolicamente, com D. Manuel, governador da Ordem, um valor idêntico ao da insígnia real (o »escudo de Portugal«) e ao do seu corpo de empresa (a »esfera armilar«).

Com a Ordem de Cristo, tratava-se, assim, de refundar a Ordem do Templo. E, de entre todos os casos de manutenção dos bens templários e de continuação da sua vocação, este terá sido, porventura, em toda a Europa, o caso mais singular. Foi-lhe dada a regra cisterciense e nomeado mestre D. Gil Martins, igualmente mestre da Ordem de Avis, que adoptara a regra cisterciense, com a determinação de que os novos monges elegessem o seu mestre próprio, depois da morte daquele. O superior espiritual da Ordem de Cristo era o abade de Alcobaça.  A 11 de Junho de 1321, um capítulo reunido em Tomar adoptou a regra da Ordem de Calatrava, o que resolvia quaisquer matérias de pendência espiritual e de obediência, mantendo-se na esfera da »cavalaria«. Depois do exercício de sete mestres da Ordem até 1417, o cargo de mestre passou a ser desempenhado pelos dignitários da Casa Real por nomeação papal, passando a ostentar o título de Governadores e Administradores,. O primeiro neste regime foi o Infante D. Henrique o qual, como tudo indica, deu continuidade ao papel dos Templários, configurando a Ordem de Cristo de modo a manter o seu espírito de cavalaria e de cruzada, mas encaminhando-a, naturalmente, para o que parecia ser a sua “missão” inicial: a conquista da Ásia, através das viagens marítimas, que a própria Ordem financiou. A cabeceira de sepultura aqui presente constitui uma das primeiras em que a cruz da Ordem de Cristo vai assumindo a sua configuração definitiva, com uma cruz grega inscrita numa cruz potenteada templária. O reverso mostra uma cruz grega simples. O motivo evolui depois para uma versão em que os braços são rematados por ângulos rectos.