Collection Rijksmuseum Amsterdam

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Prólogo | Portugal na Idade Média | Acervo existente | As Descobertas | Cartografia e Náutica

Novos Mundos – Velhos Impérios | Portugal no Ultramar | Os Gabinetes de Curiosidades

Portugal no século XVI | Conflitos internacionais | A imagem do Outro

 

 

XI. A imagem do Outro

Com a Expansão portuguesa uma nova Era se inicia, vindo a alterar e alargar, para sempre, a imagem que os ›descobridores‹ e os ›descobertos‹ tinham do mundo. As consequências relevantes dos contactos entre civilizações europeias e não europeias – o exotismo do desconhecido suscitou, mutuamente, a curiosidade e o espanto e, por vezes, certamente, o receio e a estranheza – inspiraram tanto os europeus como os indígenas, expressando, através da Arte, as impressões recém-adquiridas. Os mais variados motivos e atributos marcantes permitem-nos, ainda hoje, adivinhar a perspectiva dos observadores não europeus quanto aos estranhos que íam chegando: na arte de bronze e marfim, das cortes africanas, os portugueses são representados como símbolo do próprio poder; no foco da pintura miniaturista do império índico Mogul, encontram-se os estranhos hábitos dos europeus; na arte japonesa Nambam, retrata-se, como motivo fulcral, a actividade dos portugueses como marinheiros, mercadores e missionários. De um modo semelhante surge, na Europa, no início da Idade Moderna, o debate sobre os Novos Mundos. A imagem que existia, dos povos não europeus, é ultrapassada pelas experiências reais dos viajantes. Sobretudo no período inicial, é frequente a indistinção entre experiência e fantasia. Daí que, também no século XVI, as descrições de países longínquos contenham ainda representações de monstros e figuras fabulosas que, supostamente, habitavam aquelas regiões. As tradições medievais sobre a existência de um Paraíso terrestre, encontravam-se reflectidas, por exemplo, em descrições geográficas da Índia. Modelos antigos de ›figuras sem cabeça‹ e concepções europeias daquilo que é selvagem, foram aplicadas à América.

 

Porém, as novas impressões adquiridas foram contribuindo, pouco a pouco, para refutar a velha visão dos habitantes que viviam além-mares. A recepção dos Novos Mundos decorreu, por um lado, ao mesmo nível que a do próprio, e por outro lado, procurou-se satisfazer o desejo de sensacionalismo, através da criação de novos estereotipos, que iriam conservar-se por muitos séculos – uma situação de alternância à qual o ser humano, no século XXI, ainda continua a estar exposto. No fundo, cabe a cada geração confrontar-se, renovadamente, com a imagem dos ›Outros‹ – quer esta se encontre a uma distância espacial ou temporal – reflectindo e ampliando, simultaneamente, a imagem por si construída.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da marcha triunfal de Maximiliano I –
a gente de Calecute (II)
Hans Burgkmair, Alemanha, 1516–1518
Berlim, Deutsches Historisches Museum

Personagem portuguesa
Índia mogol, inícios do século XVII
Lisboa, Museu nacional de Arte Antiga