Collection Rijksmuseum Amsterdam

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Prólogo | Portugal na Idade Média | Acervo existente | As Descobertas | Cartografia e Náutica

Novos Mundos – Velhos Impérios | Portugal no Ultramar | Os Gabinetes de Curiosidades

Portugal no século XVI | Conflitos internacionais | A imagem do Outro

 

 

V. Cartografia e Náutica

V.I. Náutica e cartografia portuguesa

 

As Descobertas portuguesas ultramarinas foram acompanhadas de um avanço determinante da ciência náutica e da cartografia. Com o início das expedições em África, sob a direcção do Infante D. Henrique, criaram-se em Portugal os primeiros tipos de naus próprios para navegação em alto-mar, possibilitando assim avançar, para o desconhecido Atlântico Sul. Os cientistas portugueses, como por exemplo, os membros eleitos pelo rei D. João II para a Comissão de Matemáticos, concentravam-se em definir a localização segura em alto-mar, uma vez que os métodos utilizados no Mediterrâneo – baseados no seguimento da rota e estimativa do percurso efectuado – já não se podiam aplicar às grandes travessias. Os navegadores portugueses recorriam, já em meados do séc. XV, a astrolábios simples utilizados na astronomia, para calcular a latitude, lançando assim os alicerces da navegação astronómica. Além dos portugueses, também os astrónomos alemães estudaram as possibilidades de orientação pelos corpos celestes. As Efemérides de Johannes Regiomontanus (João de Monte Régio), anuários dos movimentos dos planetas, constituídas para o período entre 1475 e 1506, foram consideradas como as melhores daquele tempo e acompanharam Cristóvão Colombo, Vasco da Gama e Américo Vespucio nas suas viagens de Descobertas.

 

Por sua vez, as novas possibilidades, que a técnica apresentava, e a experiência prática dos navegadores portugueses, influenciaram a cartografia europeia e contribuíram para que esta sofresse um impulso significativo. De modo a garantir a constituição de ligações marítimas às novas regiões, os navegadores, durante as suas viagens de reconhecimento, registavam, nos seus roteiros, todas as observações geográficas e metereológicas. Os cartógrafos portugueses  assinalavam as informações aí recolhidas nos tradicionais portulanos e davam, às regiões desconhecidas, contornos geográficos precisos. Os conhecimentos recém-adquiridos acentuavam a polémica quanto à visão ptolomaica do mundo e conduziam, progressivamente, à sua correcção e alargamento.

 

 

 

 

Carta Náutica
João Teixeira Albernaz († pós 1652)
Portugal, século XVII
 Lisboa, Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo

Atlas
Fernão Vaz Dourado (1520–1580)
Portugal, cerca de 1576
Lisboa, Biblioteca Nacional

V.II. Recepção e desenvolvimento na Europa Central

 

As novas técnicas de impressão, que foram sendo desenvolvidas, na Europa Central, a partir do séc. XV, criaram possibilidades de divulgação de informação até aí desconhecidas. As inúmeras impressões das cartas de Colombo e de Vespúcio, mostravam o grande interesse que havia, em toda a Europa, sobre os resultados das viagens ibéricas de Descobertas. A par das considerações económicas, o desejo de conhecimento desempenhou, neste contexto, um papel determinante. Os intelectuais humanistas não saciavam, de modo algum, a sua curiosidade apenas nos autores da Antiguidade. Pelo contrário, sentiam-se fascinados pelos relatos sobre os ›novos mundos descobertos‹ e contribuíram não só através de cartas e debates, mas sobretudo de traduções e multiplicação de impressões, para a divulgação dos novos conhecimentos. O caso de Nuremberga é, seguramente, no espaço alemão, o exemplo mais famoso. Esta cidade é o berço dos globos de Martin Behaim e de Johannes Schöner, a Crónica Universal, de Schedel, assim como da edição de relatos de viagens, traduzida para alemão por Jobst Ruchamer, editada inicialmente em Itália, por Fracanzano da Montalboddo. Tal como Augsburgo, Nuremberga foi tanto o pólo do comércio e centro financeiro, como a cidade que acolhia artistas geniais e mecânicos de precisão especializados.

 

O novo conhecimento sobre o mundo não era apenas divulgado através dos relatos de viagens e de imagens, mas também sob a forma de globos e mapas. Tal como o desenvolvimento de novas técnicas de medição trouxera consigo uma melhoria quantitativa e qualitativa dos dados recolhidos, os novos processos de projecção levaram a uma transposição cartográfica dos dados recebidos, cada vez mais pormenorizada. No séc. XVI, com os conjuntos de mapas impressos, nasceram também os primeiros atlas. Não só em Estrasburgo, i.é, St. Dié, onde se encontrava, entre outros, Martin Waldseemüller, mas também em cidades como Lovaina, com Gemma Frisius e Gerhard Mercator, assim como Antuérpia, Amesterdão e Veneza, que o desenvolvimento da cartografia e da construção de globos registou um avanço decisivo para a época. Na viragem do século XVI para o século XVII, esta arte teve o seu auge, especialmente, nos Países-Baixos, que se tinham tornado numa potência marítima liderante. A seguir a Mercator, as oficinas de famílias de cartógrafos e de editores, como a de Hondius e Blaeu, foram produzindo edições de mapas cada vez mais perfeitas e mais exuberantes.

 

 

 

 

Globo de Martin Behaim (fac-símile),
Final do século XIX,
(original: Nuremberg 1492–1493/94)

Crónica do Mundo de Hartmann Schede,l
Nuremberg, 1493
Berlin, Deutsches Historisches Museum